Usuário(a):8BPZ1J/Piotr Ilich Tchaikovski e Os Cinco
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Na Rússia, em meados e finais do século XIX , Piotr Ilich Tchaikovski e um grupo de compositores conhecidos como Os Cinco tinham opiniões divergentes sobre a natureza da música clássica russa, especialmente sobre se deviam seguir as técnicas de composição ocidentais ou as originárias.
Ainda que tenha mostrado sinais de talento musical muito cedo, Tchaikovski decidiu estudar música profissionalmente somente após passar três anos como servidor público. Já adulto, no Conservatório de São Petersburgo aprendeu, com Anton Rubinstein e Nikolái Zaremba como compor à moda de Joseph Haydn, Wolfgang Amadeus Mozart e Ludwig van Beethoven. Tchaikovski queria escrever composições profissionais cuja qualidade superasse as críticas ocidentais e, portanto, trascendessem as barreiras nacionais, mas que, ao mesmo tempo, seguissem sendo claramente russas, na melodia, no ritmo e em outras características compositivas. Para isso, aprendeu a adaptar (e em alguns aspectos modificar) as normas clássicas ocidentais de composição, às exigências de seu estilo único. Desta maneira, não seguiria nem a seus professores, nem a seus contemporâneos nacionalistas, agrupados nos Cinco.
Os Cinco, também conhecidos como o "Grande Punhado" (em russo: Могучая кучкаem, Mogúchaia Kuchka), foi um círculo de compositores que se reuniram em São Petersburgo entre os anos 1856-1870. Pertenciam a um ramo do movimento nacionalista romântico russo e compartilhavam objetivos similares aos da Colônia Abrámtsevo e do Renacimento russono âmbito das belas artes. O grupo estava formado pelos compositores Mili Balákirev, Aleksandr Borodín, César Cui, Modest Músorgski e Nikolái Rimski-Kórsakov. Os Cinco queriam produzir um tipo específico de arte musical russa, e não um tipo que imitasse a música européia antiga, ou que se baseasse na arte ensinada nos conservatórios. Apesar de que Os Cinco também adotaram como modelo compositores europeus, centraram-se nas obras de contemporâneos musicalmente progressistas como Frédéric Chopin, Franz Liszt e Robert Schumann. Este grupo também acreditava no emprego das propriedades melódicas, harmônicas, tonais e rítmicas da canção folclórica russa, ao lado de elementos melódicos, harmônicos e rítmicos exóticos da música originária das partes central e oriental do Império russo (uma prática que seria conhecida pelo nome de orientalismo musical), como mecanismos de composição. Embora Tchaikovski tenha utilizado canções populares em algumas de suas obras, a maior parte tratou de seguir as práticas ocidentais à hora de compor, especialmente em termos de tonalidade e progressão tonal. Ademais, diferentemente de Tchaikovski, nenhum dos Cinco recebeu formação acadêmica em composição; de fato seu líder, Balákirev, considerava o academicismo como uma ameaça para a imaginação e criatividade musical. Junto com o crítico Vladímir Stásov, que apoiava os Cinco, Balákirev atacou implacavelmente o Conservatório e também Rubinstein, tanto oralmente como por escrito.[1]
Como Tchaikovski havia se tornado o estudante mais conhecido de Rubinstein, foi considerado inicialmente pelos Cinco como um alvo natural para o ataque, sobretudo como carne de canhão para as críticas de Cui.[2] Essa atitude mudou ligeiramente quando Rubinstein abandonou a cena musical de São Petersburgo em 1867. Em 1869, Tchaikovski iniciou uma relação de trabalho com Balákirev e o resultado foi a primeira obra mestra reconhecida de Tchaikovski, a obertura-fantasia Romeu e Julieta, uma obra que Os Cinco acolheram com entusiasmo.[3] Quando Tchaikovski escreveu uma resenha positiva da Fantasia sobre temas sérvios de Rimski-Kórsakov, esta foi bem recebida no círculo, apesar das preocupações a respeito da natureza acadêmica de seus conhecimentos musicais.[4] O movimento final de sua Segunda Sinfonia, também conhecida como Pequena Rússia, também foi recebido com entusiasmo pelo grupo em sua primeira apresentação em 1872.[5]
Tchaikovski permaneceu cordial, mas nunca chegou a se tornar íntimo da maioria dos Cinco, ambivalentes a respeito de sua música: suas metas e estética não coincidiam com as deles.[6] Esforçou-se para assegurar sua independência musical em relação a eles, bem como da facção conservadora do Conservatório, o que foi facilitado por sua aceitação na cátedra do Conservatório de Moscovo oferecida por Nikolai Rubinstein, irmão de Anton.[7] Quando ofereceram a Rimski-Kórsakov uma cátedra no Conservatório de São Petersburgo, após a marcha de Zaremba, ele foi conversar com Tchaikovski à procura de conselho e assessoramento, dado que não sabia o que fazer, devido à sua falta de formação musical.[8] Na década de 1880, muito após os membros dos Cinco tomarem caminhos separados, outro grupo chamado Círculo Beliáyev retomou o trabalho onde estes o tinham deixado. Tchaikovski manteve relações estreitas com os principais membros deste grupo: Aleksandr Glazunov, Anatoli Liádov e, por esse então, Rimski-Kórsakov.[9]