Sociedade de Ordens
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Sociedade de Ordens é um termo utilizado para definir o modelo de sociedade nas monarquias da Europa, durante a Idade Média até à Idade Contemporânea, que é marcado pela estratificação social que era ordenada em três estamentos principais: Primeiro Estado, Segundo Estado e Terceiro Estado, correspondendo respetivamente ao Clero, à Nobreza e ao Povo, representativos de todos os súbditos dos respectivos monarcas.
A divisão desses grupos possuíam hierarquias bem definidas, além de haver uma divisão vertical dentro da própria ordem (ou estamento) conforme a classe social, como é possível observar no relato:
"Como o povo é um corpo com várias cabeças, ele é dividido por ordens, propriedades ou ocupações específicas. Alguns são dedicados particularmente para o serviço de Deus, outros para proteger o Estado com seus braços, outros para nutrir e mantê-lo através de ocupações pacíficas. Estas são nossas três ordens ou Estados Gerais da França: o clero, a nobreza e o Terceiro Estado."[1]
Entretanto, esses grupos não eram os únicos presentes durante a Idade Média ou Idade Moderna, as relações eram mais complexas do que aparenta na divisão dos estamentos. Tendo como fundamento a cosmovisão Cristã e Filosófica, as camadas sociais se relacionavam entre si com certa complexidade e diversidade. As bases para a manutenção dessa sociedade eram bíblicas e filosóficas. Como descrito em Gênesis: havia uma ordem na criação do mundo. Ou seja, tudo na natureza existiria graças a uma ordem estabelecida por Deus, desde a Criação. Os indivíduos agiam como membros do corpo humano, com suas funções e especificidades. Assim, os seres humanos seriam incapazes de existirem isolados, pois o que caracterizava o "instinto" humano para aquela sociedade era a sociabilidade e interdependência dentro da ordem. António Manuel Hespanha, sintetiza esse pensamento cristão:
“Como existe uma ordem entre as criaturas que cria dívidas recíprocas entre elas, pode dizer-se que as relações estabelecidas nessa ordem constituem deveres. E, logo, que a ordem institui um direito, um direito natural. E como a soma dos deveres das criaturas entre si é também devida à ordem, ou seja, a Deus, o cumprimento dos deveres recíprocos é, em certa medida, um dever para com Deus e, logo, o tal direito natural acaba por ser direito divino.”[2]
No que corresponde à Filosofia, São Tomás de Aquino ao interpretar os Escritos de Aristóteles, afirma que o mundo estava organizado de modo fixo.[3] Ou seja, as desigualdades sociais e políticas eram consideradas imutáveis e necessárias à ordem. Deste modo, a estratificação social foi baseada nas premissas religiosas do Cristianismo a partir da Bíblia e da filosofia cristã. Novamente, as palavras de Hespanha:
“a diferença não significaria (...) a imperfeição ou menos perfeição de uma parte em relação às outras. Significaria antes uma diferente inserção funcional, uma cooperação, a seu medo específico, no destino final do mundo.(...) subordinação não representaria menor dignidade, mas antes apenas um específico lugar na ordem do mundo (...)”.[4]
É nesse contexto que os indivíduos eram socialmente caracterizados e hierarquizados em um grau de importância estabelecido previamente. Sendo assim, as pessoas não existiam em sua individualidade.[5] Além do pensamento da época, outra parte importante para compreender a Sociedade de Ordens são as relações com as terras:
“Cada propriedade tinha um senhor. Dizia-se comumente do Período Feudal que não havia “senhor sem terra, nem terra sem um senhor.”[6]
Em média, três a quatro dias por semana, o trabalhador tinha que produzir para o seu senhor, sem pagamento por isso. Este trabalhador recebia uma pequena parte de terra dentro dos domínios do senhor, mas a prioridade, em todos os sentidos, era em relação à terra de seu suserano.